Na abertura de Uma rede para Iemanjá, peça escrita pelo célebre autor Antônio Callado em 1961, Pai de Juca está sentado em um banco de praia e olha para o mar em prece. Iemanjá levou seu filho e, com ele, talvez, seu tino. Como a figura de um preto velho, Pai de Juca pode ser considerado um guia, presente em todas as ações da peça e responsável por mesclar realidade e fantasia. Através de seus olhos surgem Manuel Seringueiro, Lili e Jacira ― esta última grávida e com um desejo imenso de responder ao chamado que o mar lhe faz.
Única peça do Teatro Negro de Callado que se passa em espaço aberto, Uma rede para Iemanjá pode ser lida como uma representação da condição do Brasil à época. Na cidade do Rio de Janeiro, que lhe serve de cenário, há o encontro do mar com o progresso urbano, a verticalização, a presença da migração nordestina, o sincretismo religioso, a mistura de negros e brancos. Estão em cena também o abandono, a esperança e a fé. A rede é o artefato simbólico que permite abraçar e embalar todas as dimensões apresentadas por Callado e que move a vontade de Jacira; é o que representa seu vínculo com a família, um lugar de pertencimento. Seu filho, portanto, só poderá nascer ali.
A professora e crítica literária Ligia Chiappini observa que, apesar de certa melancolia, há força da esperança nessa representação: “A peça, que parodia o nascimento de Cristo, o faz renascer a céu aberto [...] podendo ser lida como uma versão afro-brasileira de um auto de Natal.” Uma rede para Iemanjá contém a beleza, a simplicidade e também a complexidade de tantos brasis que só mesmo Antônio Callado conseguiria embalar e encantar numa única rede.
Esta edição conta com apresentação da atriz Zezé Motta, prefácio de João Cezar de Castro Rocha, professor titular de Literatura Comparada da UERJ e perfil do autor por Eric Nepomuceno.
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